segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

a publicação das almas

Dezesseis meses após a última postagem, encerramos aqui este blog da produção do filme sobre os bastidores do espetáculo "Almas Abaixo de Zero" da Cia Teatro da Cidade, de São José dos Campos/SP.


DE 2012
Após a pré-estreia do espetáculo no SESC/SJC, ainda acompanhamos a Cia Teatro ao longo do 2º semestre até a estreia de fato em dezembro de 2012. Neste segundo semestre, o trabalho da Cia foi um pouco mais puxado e intenso devido à recepção que eles tiveram na pré-estreia. O resultado do trabalho ainda devia ser aprimorado em muitos pontos e, portanto, a imersão seria ainda maior. A câmera acompanhou semanalmente a Cia em seus momentos de tensão e angústia em busca da polifonia de vozes tchecovianas estampadas tanto nas personagens quanto nas representações de seus familiares que a companhia de teatro desejava levar ao palco.

O processo todo foi bem desgastante devido ao excesso de textos e de repetições de cenas. A sensação que se tinha, através da câmera, era de em alguns momentos a companhia patinava em torno de suas próprias representações sem, no entanto, encontrar rumos e caminhos no horizonte tchecoviano.

A escolha que fizemos foi continuar com a câmera de observação, um registro de quem está ali presente, mas isento de participação, de interação com a companhia. E assim fomos até a estreia que, apesar dos convites da companhia, não foi filmada. Seria demasiada interferência estar presente no espaço do Vicentina Aranha com a companhia após mirá-los semanalmente com aquela câmera inquisidora que, aos poucos, revelava a nudez do processo criativo e a crueza das narrativas teatrais sendo elaboradas nos bastidores.

DE 2013
Todo o processo de edição e finalização foi realizado em São Paulo pela Tally Campos e Cleber Leal. A proposta era seguir um roteiro prévio que elaboramos seguindo uma ideia de blocos narrativos, algo como a seguinte ordem: "uma debate sobre a recepção da pré-estreia", "leituras dos textos", "criação musical", "criação do figurino" e "pré-estreia". Esta sequência seria conduzida pelas curtas entrevistas que alguns dos atores da companhia concordaram em ceder para a câmera. 

Ao longo da edição, à medida que o filme ganhava corpo e estrutura, a edição rápida e pontual da Tally determinava uma boa narrativa que seria conduzida tanto pelos textos da própria peça quanto também pelos momentos musicais e criativos da companhia. Desta forma, houve a preocupação em aliar o discurso verbal com outros níveis discursivos como a música e a encenação a fim de potencializar diferentes níveis de leitura do filme.

Uma vez alcançado o resultado final, vimos e revimos o filme várias vezes e ele ainda nos soava muito informativo, muito denso, muito compacto. Em outras palavras, ele carecia de silêncios, de fraturas, de respiros. Ele ainda precisava contribuir com o espectador para que este pudesse compreender melhor que o que se vê é um processo aberto e inconclusivo. O filme teria que ter esta abertura almejando também o "público leigo", isto é, aquele público que não tem familiaridade com os bastidores do teatro. Nesse sentido, o filme também teria que se preocupar em "trazer", em "incluir" e "iniciar" este público nas linguagens do teatro. Portanto, a saída foi construir um arco narrativo temporal que deu uma forma aristotélica ao filme, no sentido de promover um sentido de "início, meio e fim" com os três nomes de "Anton Pavlovitch Tchecov" estampados em todo o horizonte da tela numa fonte grande e de impacto.

Além disso, a proposta era ter um filme com 52' finais de duração levando em conta a sua saída para os canais de televisão latino-americanos. A ideia seria lançá-lo em pitchings de diferentes festivais da América Central ao Sul creditando-o como uma boa aposta de curto-circuito entre cinema e teatro. Resta agora encontrar meios de traduzi-lo e legendá-lo. 

Enfim, após dois anos de produção, eis que a meta se cumpre, o objetivo está concluído e mais um filme foi feito. A quinta produção da Coágulo Filmes, sendo o segundo longa-metragem. A título de conclusão, eis aqui o primeiro clipping que temos como divulgação, uma entrevista para o programa "Moviola" da TV Univap:


Que venha 2014 com novas cepas cinematográficas,
Abraços e um até logo,
Fábio Monteiro